Praia do Suá
A estátua de São Pedro, do alto da construção do antigo hospital localizado na Praia do Suá, olha e guarda, naquilo que vê, a história do bairro. No início do século XX era uma vila de pescadores banhada pelo mar: lugar de trabalho, de habitação, de lazer, de celebrações e festividades. O cotidiano era movimentado pelas chegadas e partidas das embarcações, pela fartura dos pescados e pela cultura alimentar baseada no consumo dos mesmos, bem como pelas brincadeiras de criança que aconteciam em meio ao ambiente aquático. Nas memórias dos pescadores mais antigos – entrevistados pelo GEPPEDES/UFES – foram essas as principais lembranças sobre a antiga vila de pescadores.
Nesta seção da Casa das Águas, visitantes podem observar imagens fotográficas organizadas no formato de narrativas visuais e relatos de pessoas entrevistadas: depoimentos transcritos, áudios (podcasts) e vídeos. O acervo é fruto dos trabalhos realizados pelo GEPPEDES/UFES (Grupo de Estudos e Pesquisas em Populações Pesqueiras e Desenvolvimento), no âmbito de projetos de pesquisa e extensão que foram desenvolvidos entre os anos de 2012-2013 e 2023.
Segundo Mattedi (2002), a tradição pescadora de Praia do Suá tem relação com os pescadores de Póvoa do Varzim (Portugal), que imigraram para o Espírito Santo em meados do século XIX. Chegados aqui, teriam se fixado no Centro de Vitória, mudando posteriormente, já na primeira década do século XX, para a Praia do Suá (que ainda era uma região de intensa vegetação de mangue e restinga), constituindo suas habitações entre o morro da Garrafa e o de Bento Ferreira (atual bairro Jesus de Nazareth) por conta das condições propícias à pesca, onde mantiveram essa identidade.
Até a década de 1960 o bairro seguia sua rotina voltada para a pesca, até ser atingido diretamente pelo projeto modernizador de reforma urbana (Projeto Novo Arrabalde), no início de 1970. A tradicional vila de pescadores teve parte significativa das águas do mar aterrada. As águas que antes banhavam o bairro e chegavam às margens do antigo hospital (hoje posto de Saúde da Prefeitura de Vitória) e do Morro da Garrafa, foram levadas para longe, restando a mudança no cotidiano, no trabalho, nos costumes e formas de sociabilidade. O projeto de aterramento alterou a geografia do bairro Praia do Suá e, com isso, um novo bairro surgiu: a Enseada do Suá. Esse novo bairro, adjacente ao primeiro, foi desenhado para garantir a expansão comercial (com prédios modernos e altos) e para a moradia de luxo, tornando-se uma barreira entre a antiga vila, o mar e a atividade pesqueira.
O aterramento promoveu um corte no vínculo com as águas, transferindo essa relação para o distante cais dos pescadores, hoje construído atrás do Horto Mercado, ao lado do bairro de Jesus de Nazareth, também uma comunidade com tradição pesqueira. Isso evidencia mais uma perda, fruto de uma política urbanística excludente que ignorou e ignora os povos litorâneos e agrava, por meio do processo de gentrificação, a possibilidade de permanência desses povos e seus modos de vida. O tipo de pesca predominante, tanto em Praia do Suá quanto Jesus de Nazareth, é a pesca de arrasto de camarão, que ao longo do tempo tem passado por processos de modernização com o aumento do tamanho dos barcos e das técnicas de captura. À medida que os pescadores foram sendo empurrados para uma pesca mais longe da costa, foram obrigados a criar alternativas para garantir o seu sustento, modernizando os seus petrechos, principalmente por conta da proibição da pesca na Baía de Vitória, tida como um berçário natural, e pelo fluxo de embarcações de grande porte, decorrente das atividades econômicas privilegiadas na Baía de Vitória: as atividades portuárias (do Porto de Vitória e do Porto de Tubarão).
A criação da Colônia de Pesca, antes Z-2, atualmente Z-5, também possui história. Foi na década de 1920 que ela foi criada e continua funcionando na mesma sede até hoje.
No local, encontra-se também a peixaria da Colônia, espaço destinado à comercialização dos pescados.
Dentre as festividades que marcam o bairro, o dia 29 junho, dia de São Pedro, é celebrado com a tradicional procissão marítima pela Baía de Vitória, quando pescadores e moradores saem em barcos enfeitados comemorando o dia do padroeiro dos pescadores.
Fontes:
-MATTEDI, José Carlos. Praia do Suá. Vitória, Secretaria Municipal de Cultura, 2002.
-TRIGUEIRO, A. e KNOX, W. Imagens da Pesca Artesanal no Espírito Santo. Vitória, ES: Editora GM, 2013.
-Trabalho de campo e entrevistas realizadas entre 2012-2013 e 2023 com pescadores e pescadoras na comunidade pesqueira de Praia do Suá (Vitória, ES).