Marlúcia, Pescadora Artesanal Marisqueira

 

A atividade de catar sururus nas ilhas próximas de Vila Velha e depois trazê-los à praia para cozinhar e limpar, para então vendê-los fresquinhos, é tradição em Itapoã. A atividade realizada há gerações envolve toda a família de Marlúcia em um processo de trabalho que é artesanal, acontece na prática e gera laços afetivos e de solidariedade. Quem passa pela orla pode ter a grata experiência de admirar essa história acontecendo ao vivo, pode ter, ainda, a grata experiência de poder ouvir a própria Marlúcia e outros(as) pescadores(as) contando sobre um tempo em que a praia era somente a “Praia dos Pescadores”, nome antigo para um lugar que existia antes dos ruídos dos carros velozes e do sombreamento causado pelos altos prédios de luxo na orla. A situação mudou, Itapoã tem passado por um processo violento de gentrificação que se agrava e sufoca a tradição pescadora, que empurra para longe (para bairros periféricos) aqueles(as) cujas memórias e histórias pertencem às águas e às areias do mar. Apesar disso, os(as) pescadores(as) de Itapoã têm lutado, cotidianamente, para garantir o direito de exercer o ofício que escolheram, o direito de manter os seus territórios e os seus modos de vida. Mas a luta é árdua, considerando que existe um projeto político em curso que se alia aos interesses do capital imobiliário. Nascidos e criados num lugar de chão de terra com casas de madeira, num tempo em que os barcos se avolumavam pela praia (e a pesca, a cata do sururu e as puxadas de rede eram atividades valorizadas), os(as) pescadores(as) de hoje precisam mais do que nunca ecoar as suas vozes e lutar por reconhecimento e justiça. Marlúcia é uma dessas vozes potentes, mulher pescadora que não se deixa abater, que lembra, enquanto conversa com a gente, que também é mãe e avó (pois lhe preocupa o futuro); uma mulher que ama o mar e diz: “o mar é minha vida, o mar para mim… sei viver sem o mar não.” Marlúcia é também aquela que já nasceu com o “Mar” no nome… A narrativa visual homenageia essa mulher marisqueira/pescadora artesanal como um exemplo de luta e de protagonismo. (Registros fotográficos de 2023 – Acervo GEPPEDES/UFES; juntamente com registros fotográficos do acervo pessoal de Marlúcia (sem data), incluindo duas fotografias de Fernando Libardi, conforme marca d’água).

Fragmento de entrevista realizada com Marlúcia em 2023:
“Eu sou Marlúcia Rufino Guimarães, tenho 50 anos e sou pescadora artesanal marisqueira, filha de pescador, nascida e criada aqui na Praia de Itapoã. […] Minha vida é isso aqui, esse marzão que Deus me deu, é o que eu gosto de fazer e enquanto eu tiver fôlego de vida estarei aqui. […] Viver só da pesca hoje em dia não está dando, mas quando a pessoa faz por prazer, por amor, que é o meu caso, aí a pessoa continua lutando e enfrentando um “leão” a cada dia.”