Não é o paraíso: represamento de água para produção de celulose

 

A narrativa visual mostra uma parte da plantação de eucalipto e o represamento das águas doces do município de Aracruz, pela Suzano S.A. (antes conhecida como Fibria e Aracruz Celulose), empresa que é responsável pela produção e branqueamento de celulose de eucalipto para exortação (uma das maiores empresas do mundo). Embora as imagens mostrem um lugar idílico, elas escondem, na verdade, a violência por trás do que é visto: a usurpação das fontes de água doce e das nascentes locais, que são desviadas, represadas e gerenciadas pela própria empresa, a fim de manter a produção de celulose, atividade que utiliza diariamente um volume imensurável de água no seu processo produtivo. Enquanto isso, a população de Barra do Riacho sofre com a escassez hídrica e com as consequências do represamento das águas doces. (Registros fotográficos de 2017 – Acervo GEPPEDES/UFES).


Na narrativa, observa-se, ainda, o mapa do “Uso e ocupação do solo nos distritos de Santa Cruz e Barra do Riacho” (2017), produzido no âmbito do Projeto de Extensão “Áreas protegidas e grandes projetos de desenvolvimento” (MEC/PROEXT, 2016). O mapa, que é de autoria de Jerônimo Amaral de Carvalho, mostra o gigantesco espaço dedicado à produção de eucalipto, evidenciando uma ocupação de mais de 70% do território.

Abaixo, um fragmento de entrevista realizada em 2017 com um pescador antigo, narrando aspectos dessa história.

Entrevistador(a): O(a) senhor(a) pescava no rio?

Entrevistado(a): No rio eu pescava, mas pouco (…). Quando esse rio [Riacho] tava bom pra pescar, nós pescávamos, tinha muito peixe aí nesse rio, muito robalo, tainha e outros peixes característicos. Mas, agora acabou, as águas mudaram muito. As firmas, essas companhias [instaladas, atualmente, em Barra do Riacho], tomaram as águas tudinho nossas. Aí nós ficamos sem água doce, eles prenderam toda água doce lá e nós só temos água salgada agora. 

Entrevistador(a): Conta um pouquinho a história desse rio? Como é que ele era? Como que ele foi mudando? O que que aconteceu? 

Entrevistado(a): (…) tem o rio da vila, tinha o rio do Comboio, tinha o rio de Santa Joana e tinha o rio da Boa Vista. Aí, depois que a Aracruz [Celulose] veio pra cá, ela cortou tudo e fez a barragem. Ela cortou tudinho a nossa água e a água passou toda pra lá [para sua represa], não veio pra cá. Nós fomos prejudicados, acabou nossa água doce, acabou nosso peixe do rio. (…) Isso, desde o início que começaram a chegar por aí, começaram a fazer a barragem também, por causa da água: eles precisam de muita água. Se faltar água pra eles a fábrica para. Não pode parar. Aí, nós somos prejudicados. (…) Não temos mais água boa. A água é salgada, não é uma água doce. [Por causa da] bomba que tem ali [para sugar água do rio para dentro da represa] (…) quando o rio enche, o mar enche, a maré é grande vai vazar. 

Entrevistador(a): E essa é a água de beber, de comer? 

Entrevistado(a): Eu não sei se é pra beber não, o pessoal compra muito aqui a água pra beber. (…) cozinhar as vezes serve também…. Mas, pra beber, é muito ruim.