Chamava-se Praia Comprida, só depois passou a Praia do Canto, um lugar onde se podia avistar a presença das águas e o verde da vegetação, reunindo praia, rio, mangue, areal e Mata Atlântica. O bairro foi alvo das ações urbanísticas modernizadoras, a partir do Projeto Novo Arrabalde, elaborado pela Comissão de Melhoramentos da Capital, em 1896, que previa a expansão urbana da cidade de Vitória em direção aos espaços costeiros (com a ampliação e aterramento da orla), desde o Centro da cidade às praias mais ao leste, o que afetou diretamente a cultura pesqueira.

Nesta seção da Casa das Águas, visitantes podem observar imagens fotográficas organizadas no formato de narrativas visuais e relatos de pessoas entrevistadas: depoimentos transcritos, áudios (podcasts) e vídeos. O acervo é fruto dos trabalhos realizados pelo GEPPEDES/UFES (Grupo de Estudos e Pesquisas em Populações Pesqueiras e Desenvolvimento), no âmbito de projetos de pesquisa e extensão que foram desenvolvidos entre os anos de 2012-2013 e 2023.

Antes dos aterramentos, decorrentes dos projetos urbanísticos que ocorreram, e mesmo antes da década de 1970, podia-se encontrar no bairro uma marcante cultura da pesca, com atividades ligadas ao mar e ao rio, segundo os relatos orais de pescadores(as) locais. Depois disso, por conta do intenso processo de gentrificação resultante, a Praia do Canto se torna um bairro nobre, cujo metro quadrado foi excessivamente valorizado; lugar de prédios alto, comércio e circulação de pessoas, enquanto a atividade da pesca artesanal, embora ainda presente atualmente, vai paulatinamente perdendo a sua centralidade.
Hoje, o núcleo pescador do bairro Praia do Canto encontra-se reduzido, pois foi sendo engolido pelos aterramentos, pelos prédios altos e o comércio local. Todavia, ainda se pode vislumbrar a história e a presença da pesca no bairro por meio da visualidade dos barcos atracados (e das atividades voltadas ao cotidiano da pesca) na embocadura do rio Santa Maria, no encontro com o mar, na Baía do Espírito Santo. E, ainda, por meio da construção de alvenaria, que abriga a Associação de Pescadores do Terminal da Praia do Canto, bem como o pequeno local (nos fundos da Associação) onde se pode conhecer o trabalho dos marisqueiros e marisqueiras fazendo a higienização e cozimento dos mariscos pescados fresquinhos nas Ilhas próximas. Cabe dizer que a mariscagem sempre foi uma atividade tradicional na Praia do Canto, mas infelizmente hoje conta com menos integrantes do que antes. Segundo os relatos orais, colhidos em trabalho de campo junto aos pescadores(as), o aterramento do bairro teria sido feito, inclusive, utilizando cascas do próprio sururu.

Fontes:
-AGUIAR, Sandra; PEDRINHA, Cláudia. Praia do Canto. Vitória: Secretaria Municipal de Cultura, 2000. (Coleção Elmo Elton; 4).
-KLUG, Letícia. Vitória: sítio físico e paisagem. Vitória: EDUFES, 2009.
-PIMENTEL, Viviane Lima. O Novo Arrabalde da Praia Comprida – A arquitetura residencial na Praia do Canto em Vitória-ES (1910-1939). Dissertação (mestrado) – UFRJ/ Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/Programa de Pós-graduação em Arquitetura, 2006.
-Trabalho de campo e entrevistas realizadas em 2023 com pescadores e pescadoras locais.