Sou pescadora artesanal marisqueira, […] tenho 50 anos. […] Sou nascida e criada, desde quando eu nasci eu moro aqui em Itapoã. […] a minha família é toda de pescador, meus avós, minha mãe, meu pai, isso era família de pescador, então a gente quando criança não tem muita opção, não tem para onde correr. […] Porque filho de pescador é assim, já nasce praticamente dentro do mar, então não tem muita opção, entendeu? Até que hoje em dia tem, mas quando a pessoa gosta, que vem passar de geração em geração a pessoa acaba ficando aqui no mar mesmo, né? […] Aí eu fui crescendo, pegando gosto, e a partir dos 9, 10 anos eu já estava aí trabalhando por mim mesmo, por conta própria, correndo, na correria para ajudar em casa. […] A primeira vez que eu saí no mar num barco eu tinha dez anos, aí a gente foi rancar sururu, foi muito bom e dali nunca mais eu parei, partir dali nunca mais, […] até tentei ir para outro serviço, trabalhei na padaria, mas não gostei, trabalhei no condomínio também, fiquei uns dois, três meses, também não gostei, minha vida é isso aqui, é esse marzão que Deus deu para a gente aí, o que eu gosto de fazer, enquanto tiver fôlego de vida, estou aqui no marzão. […] Eu tenho carteirinha de pescador, eu saio para o mar, é muito difícil o dia que eu não vou, a gente joga a rede também quando tem uns cardumes de peixe, se tiver um cardume de peixe a gente joga a rede, se a gente não tem rede a gente puxa e ajuda a puxar, ajuda os outros donos de rede, entendeu? Tem uns oito anos que eu tenho minha própria rede, mas antigamente eu ajudava, trabalhava para as outras pessoas, entendeu? Então foi a vida inteira assim, tenho três filhas, criei minhas filhas assim, hoje eu tenho seis netos também, estou ajudando minha filha a criar dessa forma, do mar aqui, a gente passa por luta, passa por dificuldade, porque temos os problemas, né? […] Eu e minha família nós dependemos disso aqui, nós vivemos disso aqui, por trás de mim tem eu, meu marido, minhas três filhas, meus netos. […] Por trás dessa [nome suprimido] aqui tem várias pessoas, entendeu? […] Mas a gente vai lutando, cada dia Deus vai dando vitória para a gente. […] O mar, abaixo de Deus é tudo para mim, o mar é meu trabalho, o mar é meu lazer, […] até meu último dia de vida eu quero estar aqui na frente do mar, olhando, respirando, sentindo essa brisa maravilhosa, é muito gratificante, só tenho que agradecer a Deus por nos dar a vida e nos dar esse marzão para trabalhar.
