Regência Augusta

Regência Augusta é uma tradicional vila pesqueira localizada na foz do rio Doce, litoral norte do Espírito Santo, no município de Linhares. O seu cotidiano é permeado pela presença de barcos, pelas pescas no rio e no mar (com suas distintas técnicas), pela culinária e práticas alimentares ligadas ao consumo de pescados, pelo lazer próximo às águas, por festividades (religiosas e não religiosas), pela prática do surfe e por laços de sociabilidade marcados tanto pela consanguinidade quanto por afinidades. Em novembro de 2015 a vila foi severamente atingida pelo crime-desastre da Samarco, na bacia do rio Doce, com repercussões vividas até hoje.

Nesta seção da Casa das Águas, visitantes podem observar imagens fotográficas organizadas no formato de narrativas visuais e relatos de pessoas entrevistadas: depoimentos transcritos, áudios (podcasts) e vídeos. O acervo é fruto dos trabalhos realizados pelo GEPPEDES/UFES (Grupo de Estudos e Pesquisas em Populações Pesqueiras e Desenvolvimento), no âmbito de projetos de pesquisa e extensão que foram desenvolvidos entre os anos de 2012, 2016-2018.

O distrito de Regência Augusta possui 40 hectares e cerca de 1.300 habitantes, distribuídos em aproximadamente 330 famílias (IBGE, 2010), o espaço é caracterizado pela vegetação de restinga, que integra o bioma da Mata Atlântica. A localidade abriga a Reserva Biológica (REBIO) de Comboios, uma área de proteção integral destinada às ações de pesquisa e manejo das tartarugas marinhas (desova e conservação das espécies), criada em 1984, possuindo uma Base Avançada do Centro TAMAR aberta à visitação, atraindo estudiosos e turistas.Além disso, Regência Augusta também é conhecida mundialmente por suas belas praias e fortes ondas, que ganharam destaque entre surfistas, incrementando ainda mais a relação com as águas e o turismo na vila. A presença marcante do surfe na localidade pode ser observada, inclusive, por meio da iniciativa da criação da Associação de Surf de Regência (ASR).

Na vila também existe a Associação de Pescadores de Regência (ASPER), criada em 1998. Além da ASPER, cabe citar a Colônia Z-6 “Caboclo Bernardo”, fundada em 1993, que responde pela organização dos pescadores, sendo a mesma localizada no bairro do Centro, no município de Linhares.

Embora seja uma pequena vila com características bastante comunitárias, o cotidiano de Regência Augusta tem sido atingido (desde a segunda metade do século XX) por transformações territoriais decorrentes da política desenvolvimentista, via a instalação de grandes empreendimentos, como aqueles ligados ao petróleo (e posteriormente o gás), da empresa Petrobras. Tais atividades geram zonas de exclusão (áreas em que são proibidas à pesca), ou seja, áreas destinadas exclusivamente à prospecção por meio de plataformas petrolíferas off-shore (marítimas) e on-shore (em terra). Mais recentemente (desde os anos 2000), tem-se também as plataformas dos navios-sonda que são responsáveis pelas pesquisas sísmicas ligadas ao pré-sal. Além disso, há a presença de oleodutos e gasodutos que cortam a vila e se estendem para localidades próximas, como Entre Rios, promovendo uma condição de vulnerabilidade e exposição a riscos decorrentes da presença dessas instalações.

Em paralelo à política desenvolvimentista, cabe ressaltar a presença de áreas naturais protegidas, como a REBIO de Comboios, já citada, que ocupa um espaço de 544,81 há, correspondentes a quase 65% da costa marítima do município de Linhares. Essa área de proteção, de caráter integral, não permite a presença de atividades humanas em suas imediações (somente atividades voltadas à pesquisa científica), demonstrando a característica marcante da política ambiental de cunho conservacionista na região, o que também tem afetado a prática da pesca artesanal de forma marcante.

Agravando os acontecimentos já citados, a vila de Regência Augusta e suas adjacências foram inteiramente atingidas a partir de novembro de 2015 pelo crime-desastre decorrente do rompimento da barragem de rejeitos de mineração da Samarco/VALE/BHP Billiton que, embora tenha ocorrido em Mariana-MG, afetou toda a bacia do rio Doce, promovendo o espalhamento da lama contaminada até à sua foz e o oceano, já em território do Espírito Santo. Foram gravemente afetados os ecossistemas fluvial, marinho e terrestre e, com isso, as atividades laborais, sociais, culturais, lúdicas, os laços simbólicos, a vida emocional e todas as práticas produtivas e econômicas atreladas a estes ecossistemas, incluindo a pesca artesanal. Diante de tantas perdas intangíveis, da alteração radical da história local e de todo sofrimento social instaurado pela chegada da lama de rejeitos na foz do rio Doce, a comunidade tem mobilizado esforços para acessar as formas legais e justas de reparação deste crime-desastre que é considerado um dos maiores da história da mineração no mundo.

Fontes: -BICALHO, C.; TRIGUEIRO, A.; KNOX, W.; BEHR, R. Movimento das águas caboclas: Narrativa visual, cotidiano e ruptura na comunidade pesqueira de Regência Augusta-ES. CADECS. v°2; n°1; 2014. -CREADO, E.; TRIGUEIRO, A.; TORRES, C. (org). Vidas de Rio e de Mar: Pesca, Desenvolvimento e Ambientalismo. Vitória: ProeEx-UFES, 2018. -IBGE. Censo de 2010. -KNOX, W.; TRIGUEIRO, A. (Org.) Saberes, Narrativas e conflitos na pesca artesanal. Vitória: Edufes, 2015. -TRIGUEIRO, A. e KNOX, W. Imagens da Pesca Artesanal no Espírito Santo. Vitória, ES: Editora GM, 2013. -TRIGUEIRO, A.; CREADO, E.; ZANETTI, D. Encontros de rios e mar: áreas protegidas e grandes projetos de desenvolvimento em Barra do Riacho e Regência Augusta (ES). Vitória: ProeEx-UFES, 2018. -Trabalho de campo e entrevistas realizadas entre 2012-2013 e 2016-2018 com pescadores(as), lideranças locais, ribeirinhos, surfistas e outros moradores de Regência Augusta, Areal e Entre Rios.

Narrativas Visuais

O Surfe

Espaço Cultural Casa Rosa

Mulheres no Congo

Antes e depois da chegada da lama

A Chegada da Lama pelo olhar das crianças

Pesca e Pescadores ( Em elaboração)

Preserve a Natureza

Proteção das tartarugas marinhas

Entrevistas

Dona Sélia

Entrevista realizada Entre 2015 e 2016 com a senhora Sélia Maria Penha Merlo, moradora da comunidade de Regência Augusta

Entrevista com Dona Sélia

Entrevista realizada Entre 2015 e 2016 com a senhora Sélia Maria Penha Merlo, moradora da comunidade de Regência Augusta.