Mulheres que lutam pela tradição da pesca artesanal

Fragmento de entrevista realizada com marisqueira e liderança local da Ilha das Caieiras (Vitória-ES), maio de 2012

Nasci na Ilha das Caieiras. Meus pais nasceram também aqui na Ilha das Caieiras, […] meu pai também era pescador, minha mãe era uma desfiadeira de siri, eu fui desfiadeira de siri durante muitos anos com sete anos de idade eu comecei a desfiar siri. Estudei pouco, fiz só o ensino básico, até a oitava série do fundamental que fala, né? Sou a mais velha dos dez filhos da minha mãe, aí trabalhei muito com a desfiagem de siri aprendi muitas coisas. […] Mas meus avós vieram de fora, meu avô veio da Ilha da Madeira, era um português, que trabalhava como gerente da fábrica de cal; que a Ilha das Caieira era uma ilha cercada de manguezais e vieram três portugueses da Ilha da Madeira e trouxeram a fórmula do cal que fazia da casca da ostra. Por isso, tinha essa fábrica de cal na Ilha das Caieiras, que gerava geração de emprego e renda porque aqui era só pescador e a fábrica de cal era o único recurso que as pessoas tinham onde trabalhar, catava a casca da ostra, no manguezal e vendia pra fábrica de cal pra poder fazer o processo do cal.

[…] Tive curso de capacitação e fundei a Associação de Pescadores e Desfiadeiras de Siri, através desses cursos de capacitação eu aprendi a montar meu próprio negócio, e hoje eu sou proprietária de restaurante. […] Através dessa associação da época, a gente conseguiu através do grupo todo trazer geração de emprego e renda, trazer a cooperativa, através dos meios de divulgação de jornal, jornal impresso da A gazeta, da A tribuna, da televisão a gente divulgou muito a torta capixaba, divulgou as desfiadeiras de siri, divulgou todo o pescado da Ilha das Caieiras, e surgiram aqui vários restaurantes, através dessa organização que na época. […] A gente sempre teve muita dificuldade, mas a gente fazia reunião, a gente brigava, mas quando eu estava de frente eu fui perseverante porque eu tinha um objetivo, e o objetivo era trazer o progresso pra Ilha das Caieiras. Eu pensava, eu sempre pensei, é englobar tudo, trazer o benefício para todos até hoje eu penso nisso, porque eu sou presidente da comunidade por três mandato, então alguma coisa boa eu devo ter feito pra essa comunidade, apesar das críticas alguma coisa eu fiz.

[…] A mulher na Ilha das Caieiras ela é muito guerreira, ela é muito autêntica, severa com ela mesma, ela luta, pescavam e eram desfiadeiras, nós temos mulheres guerreiras maravilhosas aqui na Ilha das Caieiras. Inclusive uma que quando eu entrei na organização, antes de eu estar como presidente da organização, eu me espelhei nela, foi a tia Laura, uma das lideranças muito grandes aqui. A dona Lara participou muito com tia Laura, a finada minha mãe, a Dona Nilza, a Tereza que mexia na área de saúde, a dona Sueli. Essas mulheres deixaram uma história na Ilha das Caieiras, então nós agora, nessa geração, a gente se espelhou nessas mulheres pra poder lutar por alguma coisa.