Pesca na Ilha das Caieiras

Fragmento de entrevista realizada com um pescador da Ilha das Caieiras (Vitória-ES) em maio de 2012

Eu tenho quarenta e nove anos, comecei na pesca com dez anos com meu pai. […] Olha eu pescava e estudava, eu estudava de manhã das sete às onze e depois pescava de noite com meu pai, aí dormia e acordava com meu pai pescando, tentava ajudar, mas criança sabe como é, dorme toda. Aí depois na quinta série eu saí do colégio, daí eu fiquei só na pesca e é assim até hoje. Eu me empreguei na firma, em três firma eu me empreguei, três ano em uma, dois anos na outra, […] eu pescava à noite, lá pra seis horas eu tinha que tá lá na Curva da Jurema pra assinar o ponto sete horas, mas chegava lá cheio de sono, às vezes levava a comida, comia por lá mesmo. Aí três anos depois saí, depois que eu saí nunca mais me empreguei, foi em noventa e seis [1996] que eu saí, até hoje não trabalhei mais em lugar nenhum, […] fui lá na Colônia de Pescador me associei pra pagar INSS, tô com vinte três anos já de carteira, daqui dois anos se Deus quiser tô me aposentando. […] Eu sou associado na SEAPI e na Colônia, aí tem o defeso, na época do defeso eu recebo quatro pagamento e cesta básica também todo ano.

[…] O peixe mais disputado aqui até hoje é o robalo, nunca falta, é um peixe que todo mundo compra, jogava ali sete hora você pode pegar cinco caixa, você vai vender tudo, é caro e ele não é barato não. Você pega quinhentos quilos de tainha, é um real o quilo, não compensa, tem que remendar a rede, rede fina rasga muito, a despesa não compensa, chega lá no mercado, vai chegar a cento e vinte conto uma caixa de tainha de vinte quilo, o que que nós pegamos? Pegamos nada. Agora, depois disso aí, só trabalho agora com o robalo e o siri desfiado, camarão de vez em quando, por que tem que ficar mais no que dá lucro que é o siri e o robalo, camarão não dá lucro não, se você guardar muito ele estraga, tem que chegar e vender, daí vende a dez real o quilo, aí se pega o robalo, robalinho assim tudo vivo cê pega dezoito conto, se você limpa vinte e cinco, se vender quatro quilo faz dinheiro.

[…] Ó naquela época não existia nylon era fio urso, era um fio urso mesmo tipo um nylon de seda, só que você tinha que tingir ele, hoje em dia é seda. A gente ia todo sábado lá na ilha pra pegar aroeira pra cozinhar pra tintar a rede, toda semana tinha de tintar, a gente tinha abria tudinho de fio urso, se a gente não tintasse a rede apodrecia. Botava pra ferver dentro do caldeirão, deixava esfriar botava a rede dentro botava no varal, o varal que eu falo tinha quatro pau alto, a gente esticava a rede em cima. Cê deixava tudo do lado de fora assim, sua tarrafa, todo o material, cê dormia e acordava tava tudo do lado de fora, hoje em dia cê bota um negócio ali fora, uma tarrafa num amanhece, cê tem que botar a rede e tal tudo no cadeado. […] Se naquela época era fio urso e nós enchia aquilo de peixe, imagina se fosse nylon? Minha nossa senhora, nós num aguentava trazer aquilo de peixe não, nós saia por aqui, entrava por ali ó, fazia Camburi e iate e voltava por aqui de novo, quando encostava aqui era peixe que não se acabava mais. […] Aqui dava aqueles peixões diretos, só que agora eles taparam lá, aqui em Tubarão [refere-se ao Porto de Tubarão], aterraram com aquelas pedras, acabou a passagem de peixe grande, entrava por lá e saía pela barra aqui, agora não aparece mais boto, xaréu acabou, porque eles aterraram lá, tapou a passagem do peixe. Cê vai até lá, pode filmar, fica tudo ali brincando perto de tubarão, ali de tubarão pra fora e não passa porque não tem passagem, que as pedras atrapalhou a passagem de peixe.

[…] Aqui é tudo artesanal não é de motor não, de vez em quando você pega um motor pra ir, aqui o pessoal que roda e sai a remo, é quatro hora, cinco hora a remo. […] Hoje a pesca tá diminuindo

porque várias pessoas já tão ficando de idade e já não aguenta mais remar, muitos já passaram pra cachaça, já não consegue nem sair daquele lugar. […] Mas minha família tá aí, tudo pescador, é filho, é sobrinho, é neto, tudo pescador, tem um garotinho desse tamanhozinho já tá lá no píer querendo pescar, já com siri desfiando garotinho com quatro aninho já tá descascando siri.