A mariscagem na Praia do Canto

Fragmento de entrevista realizada com pescador(a) artesanal em 2023.

Marisqueira: Tenho cinquenta e quatro anos, […] eu nasci e fui criada aqui na Praia do Canto, na Rua Aleixo Neto ali atrás. Agora ele [referindo-se ao marido] é de Domingos Martins, né? Aí nos conhecemos, se casamos, tivemos cinco filhos, temos oito netos, criamos tudo aqui. Aí meu filho mais novo tem vinte e um anos já, aí criamos tudo aqui na sua atividade aqui, mas nenhum seguiu não. Graças a Deus porque é muito sofrido.  

Marisqueiro: Isso, sou de Domingos Martins eu nasci lá e fui criado aqui, entendeu? Em Cariacica, Campo Grande, mas sempre pescando aqui mesmo. Quando comecei eu sei que eu tava com dezoito anos, né? Tô mexendo com ele até hoje com minhas filhas aqui, com meus netos. Entendeu? […] Tem mais uns quarenta anos que estamos aqui.   

Marisqueira: A atividade aqui [Praia do Canto] começou com meus tios, lá atrás, irmão da minha mãe, mexia com marisco, trabalhou aqui, aí ele [marido] ficou trabalhando com ele, depois que meu tio faleceu ele continuou. […] Minha irmã mais velha mexe também, só que ela pega e leva embora pra casa, bota dentro do carro e descasca em casa mesmo. Meu genro, um dos netos também pega e leva embora.  

Marisqueiro: Olha, isso aqui tudo foi aterrado com casca de sururu e casca de ostra né? Essa parte [aponta para o entorno da Praia do Canto, nas margens do Canal de Camburi] aqui ó. Entendeu? Mas era muita casca mesmo. […] Pegava tipo assim, nós ia saí pra poder pescar e recolher essas ostras nos vendiam as latas pra eles entendeu? Aí ela foi só debulhando as cascas espalhando né? Aí tudo aterrado com casca de sururu e cascas de ostra.  

Marisqueira: Fui criada aqui e eu olho os prédios aqui eu lembro das casas na minha adolescência. […] Nossa, maravilha, olha na época que morava pobre na Praia do Canto, agora é só rico. […] Tinha, tinha uma senhora aqui também ela mexia com mariscos a família dela toda. […] Morou muitos anos aqui, tiraram ela mas não deram nada, foi embora pra Jabour, depois pra Andorinhas. […] Aqui atrás tinha um pescador, morreu, a mulher dele também, aí as filhas venderam, pegou um apartamento em Jardim Camburi, a outra pegou uma casa em Goiabeiras. […] Aqui era muito bom tá? Muito bom mesmo, aí estudei no Maria Horta [escola municipal do bairro] aí depois parei de estudar, porque naquela época era mais difícil né? Os livros era tudo comprado, nós temos em onze filhos, sete mulheres e quatro homens na minha família. Aí depois conheci ele, casei e construí minha família, minha mãe faleceu, mas meu pai é vivo até hoje, tem oitenta e quatro anos […] vendeu aqui e mora no centro. E foi assim com os mais antigos, foram tudo vendendo mesmo. 

Praia do Canto tinha muita gente que vivia da pesca, já foi muito grande mesmo, né? Mas não é mais, aqui agora é mais barco de passeio. Os pessoal que não precisa da pesca foi comprando o barco e colocando aí. […] Você junta todos os amigos, cada um dá uma quantidade, vão com pescador na verdade é o motorista. Aí só vai vem pra passear pro uso deles mesmo e acabou. […] Muita gente vinha comprar marisco aqui. Cadê a fila aqui pra comprar os mariscos aqui, ó. Acabou.