“Lambisgoia”

Meu nome é João Carlos Gomes da Fonseca, ninguém me conhece como João Carlos não, só como Lambisgoia. Cinquenta anos. Moro em Jesus de Nazareth. Meu trabalho… eu sempre fui de pescador. Entendeu? E agora estou exercendo uma função de pescador como do sindicato. A minha história da pesca começou há quarenta e dois anos atrás, desde o Terminal [refere-se ao Terminal Pesqueiro de Vitória, localizado no bairro de Jesus de Nazareth]. Eu já não ia pro mar, mas eu sempre ficava aqui dentro. Entendeu? Com a faixa dos oito a dez anos já ficava aí dentro desse Terminal. E dali houve uma oportunidade de surgir uma vaga pra mim experimentar e daí fui. Eu comecei e fiquei entendeu? Hoje são onze anos que eu construo e levanto toda a minha família dentro da pesca.   

Jesus de Nazareth [refere-se ao bairro entre Bento Ferreira e Praia do Suá], é praticamente aqui na nossa comunidade, a maioria da pesca aqui da Praia do Suá, a maioria dos pescadores, moram nela, entendeu? Essa comunidade já vem bem das antigas, bem antes mesmo que eu vinha pro Terminal que foi dali que eu comecei a aprender com os próprios moradores da comunidade.  É o único morro [Jesus de Nazareth] que tem praia aqui dentro da nossa capital, entendeu? É um morro assim que a gente vive muito da pesca ali, a maioria das famílias são criadas dentro da pesca, do próprio peixe que é consumido, entendeu? […] Minha comunidade a gente tem vários coisa pro turismo, entendeu? Nós temos vários restaurantes aí que abriga tanto o nosso povo, até o nosso governador e prefeito do estado, que sempre vem fazer uma visita a nossa comunidade e se depara com aquela paisagem que nós temos […] você sabe que aqui no nosso estado nós temos uma cultura que se chama tradicional moqueca capixaba, de fruto na nossa comunidade. Direto dos pescadores.   

O nosso sindicato (SINDPESMES) ele foi criado devido a muitas entidades que se diziam representante de pescadores e na realidade não era, entendeu? Então todo benefício que tem que vir pros pescadores e essas entidades engoliu os pescadores, entendeu? […] Porque aí o cerco fechou pra nós que quando caiu o desastre de Mariana automaticamente a Justiça Federal brasileira interditou a nossa área de vinte metros. […] Nós perdemos setenta e cinco por cento do nosso pesqueiro, só temos vinte e cinco pra trabalhar. Só que quando fala vinte metro não é vinte metro daqui ali, vinte metro são quilômetros de distância da beira da praia, e ali começou a fechar o nosso cerco, a Justiça Federal fechou o nosso local de trabalho devido a… automaticamente o IBAMA [conteúdo inaudível]. […] Alguns federais aí começaram a bater em cima das embarcações, multar em tudo, o helicóptero sobrevoando aqueles rasantes em cima das embarcações, foi na hora que a gente se movimentou.  

E hoje chegamos onde nós todos chegarem então vocês podem ver. Conseguimos fazer uma mudança da pesca do camarão que estava sendo uma parada errada que estava, a pesca do camarão não estava parando na época da desova, estava parando na época já tinha desovado e não estava trabalhando na época errada. […] Hoje é um total deve ter umas duzentas pessoas afiliada. […] Conseguimos fazer isso e conseguimos um reconhecimento dos pescadores. Sim, nós fomos apenas um instrumento de trabalho, mas o reconhecimento maior foi do Ministério Público Federal e da Defensoria Pública do nosso estado. Sim, eles viram o nosso sofrimento da forma que a gente tava trabalhando, acompanhou tudo aquilo que eu tô dizendo pra você e foi praticamente assim, apadrinhou aqueles que eram verdadeiros. […] Conseguimos ter a voz e dar a voz pra aqueles que não tem.