Transformações da pesca artesanal

Meu pai pescava aqui na Praia do Suá onde era o hospital São Pedro, pescava de canoa ali. Veio o aterro na década de setenta e expulsaram o pescador e levou o pescador pra essas regiões [aponta para a região atual do píer, ao lado do morro Jesus de Nazareth] . […]E vamos acompanhando a evolução da pesca. Antes eram barquinhos de sete metros, como fomos perdendo o nosso habitat natural da arte da pesca por conta do progresso das grandes indústrias avançando o mar dentro, fomos é oprimidos a se locomover, ou seja, sair do nosso pesqueiro natural e procurar outros pesqueiros, e foi o que aconteceu antes a gente pescava ali na Praia de Camburi. Aí veio a ArcelorMittal, veio a Vale. Então foram o fechando o cerco e foram levando o pescador pra região mais funda, nosso barquinho de sete metros e um metro e meio de largura não alcançava essa profundidade. Tanto que a pesca artesanal ela evoluiu […] hoje fomos obrigados a pescar esse camarão na região de trinta metros. Tanto que a rede é catorze quilos, ela só suporta uma profundidade de quatorze metros, daí pra cima ela não suporta. Porque você pega a força de uma maré, a atmosfera de pressão no fundo do mar e o barco que não tem essa propulsão pra puxar, o barco e a rede não conseguiam mais pescar camarão. […] Colocamos o material mais pesado, rede pesada e corda mais pesada e com isso o pescador não conseguiu puxar pelo fato de estar pesado, muito menos a propulsão do barco, que era o motor número onze, dezoito. Tivemos que aumentar a propulsão […] e foi gerado também o guincho que a forma pra puxar o equipamento – tirar da mão. E foi onde que houve a evolução dos barcos, motor maior e guincho maior pelo fato de sair do ambiente natural e ir pro fundo.  

[…] Com essa mudança teve uma dificuldade enorme, porque tivemos que descobrir outros pesqueiros. Então num espaço de tempo acredito na época umas quatro horas, o pescador tinha que vim embora porque rasgava a rede duas vezes, pelo fato de tá pescando num local ainda não explorado, pegava pedra até mesmo descarte dos navios. Então foi no início ali de noventa e cinco pra dois mil [entre os anos de 1995-2000], foi difícil muito, muito difícil. Então quem ajudou a gente nessa situação foi alguns catarinos e nos ajudaram ali a explorar o pesqueiro e marcar as regiões com GPS. Assim como o pai iniciou a pesca era tudo de olho, não tinha um mapeio ali no GPS naquela região, tudo de olho. Marcava um ponto em terra, pegava referência ali do Morro do Moreno, do Convento da Penha, o mestre Álvaro e ali começava a arte da pesca. Quando fomos expulsos tivemos que recorrer a tecnologia que é o GPS.