Percepção do impacto da lama sobre a agricultura de Povoação

Fragmento de entrevista realizada com pescador(a) artesanal em 2016

Entrevistador(a): Aqui em Povoação também deu pra perceber que, diferente de Regência, o pessoal tem agricultura, tem roça… Como é que tá esse pessoal, você sabe?

Entrevistado(a)1: O pessoal… eles tiveram um impacto muito grande, entendeu?

Entrevistador(a): Mas você sabe se eles estão recebendo cartão [auxílio da Samarco]?

Entrevistado(a) 1: Eu sei, assim, mais ou menos, umas três pessoas estão recebendo (…). Mas tem muito mais gente! Tem eu, inclusive. Eu também tenho uma ilha… tenho cacau, mas só que até hoje eu fiz esse cadastro também, mas não recebi.

Entrevistador(a): Mas como é que tá o cacau na ilha? Tá produzindo?

Entrevistado(a) 1: não, secou os cacaus. Essa  lama secou o desenvolvimento do cacau, ele matou o cacau. 

Entrevistador(a): a lama matou o cacau como?

Entrevistado(a) 1: Ela veio e fez aquela nata por cima. Acho que ali bloqueou algum oxigênio, sei lá… Endureceu e matou as árvores. 

​Entrevistador(a): e o que você fazia com esse cacau antes?

Entrevistado(a) 1: Vendia, né? Secava e vendia. Não era muito. Mas, poxa, ajudava!

(…)

Entrevistador: Tinha mais alguma coisa além de cacau? 

Entrevistado(a) 1: antes [tinha] banana… [Mas] impactou também. Não estão desenvolvendo cacho. Ficam bem murchinhas, entendeu?

Entrevistador(a): Ninguém da Samarco foi nessas ilhas ver?

Entrevistado(a) 1: Na minha pelo menos não foi não. De outros colegas meus também não…

Entrevistado(a) 2: E os donos de ilhas, os fazendeiros, vão ser ressarcidos?  E os caras que trabalharam pra eles que perderam emprego devido a essa situação? Ninguém até hoje não veio falar com os caras. (…) Várias pessoas que trabalhavam com fazendas perderam o emprego!