Encerramento de atividades da escola de surf e bodyboard

Fragmento de entrevista realizada com pescador(a) artesanal em 2016

Entrevistador(a): Povoação tem uma tradição de bodyboard, né?

Entrevistado(a): É, isso. Essa tradição já vem da década de 80. 

Entrevistador(a): Como é que foi pra disseminar o bodyboard aí entre a molecada? A molecada vinha, via o pessoal pegando onda e aí se interessavam?

Entrevistado(a): Isso. Aqui a molecada vinha pra praia, via a galera pegando onda no verão, entendeu?! Praia cheia… E a molecada sempre vendo essa galera pegando onda, foram pegando o hábito de pegar onda também. [A onda de povoação] é uma onda de potencial bem grande. Onda muito forte. (…) Essa onda aqui é pro bodyboard mesmo. Surf pega umas ondas, mas a prática mesmo é pro bodyboard, porque é uma onda muito forte e [tem] buraco.

Entrevistador(a): Vem muita gente de fora surfar aqui?

​Entrevistado(a): Vem, vem muita gente de fora aqui.

Entrevistador: já tiveram alguns campeonatos aqui, né?

Entrevistado(a): Já, já.

Entrevistador(a): você lembra quando  foi o primeiro campeonato de bodyboard aqui?

Entrevistado(a): rapaz… na década de 80 rolava surf e bodyboard junto, né. Porque os organizadores aqui de Linhares, eles faziam esses campeonatos. Era surf e bodyboard. Juntos! Aí depois, parou. Aí era só surf, e às vezes só bodyboard. A última etapa que teve agora do estadual, foi antes dessa lama aparecer aí, do rompimento dessa barragem. Deu, deu bastante atleta de fora. Os caras de mundial, Lá de Vila Velha gosta bastante dessa onda aí. E deu uma galera. E desde então tem esse trabalho nosso aí. A gente tava com uma expectativa bem grande de formar atleta aqui. Inclusive, teve dois atletas que estavam no topo do estadual e não continuaram por falta de apoio.

(…)

Entrevistador(a): Você optou por parar a escolinha né?

Entrevistado(a): Optei por parar por mexer com criança. É um negócio mais sério, né? Se fosse por eles eu continuaria. Eles cobram muito. Só que não pode, a gente não tem algo concreto. (…) A gente não tem uma análise certa da água. a gente não tem [alguém que diga]: “ó, a análise é assim, tá liberado pra vocês trabalharem na água.”

Entrevistador(a): Ninguém falou nada no sobre a qualidade da água pra vocês? Alguém procurou a escolinha de bodyboard pra dar alguma orientação? IBAMA, IEMA, Prefeitura de Linhares, Governo do Espírito Santo, ninguém?

Entrevistado(a): Não, ninguém falou nada. Ninguém procurou. 

Entrevistador(a): E a Samarco, nada?

Entrevistado(a): Nada! 

Entrevistador(a): A escolinha de vocês contava com o apoio de alguém?

Entrevistado(a): Não. só nós mesmo. A boa vontade nossa. Inclusive, um colega meu, que foi embora deu altas ideias pra nós aí, ele foi embora porque a lama veio e tirou todo o projeto que tinha de continuar aqui, com o trabalho do surf e bodyboard aí. 

Entrevistador(a): Você acha que a molecada que ia muito no surf da escolinha, a atividade deles agora, eles estão fazendo o que?

Entrevistado(a): Agora eles andam de cavalo aí… Os moleques estão perdidos na comunidade! Não tem nada! Não tem um rio pra eles tomar banho, não tem nada! (…) Inclusive, criaram aqui, uma tal de feirinha às sextas que rola só um forró. Eles colocam esse forró, aí os moleques ficam na noite. Aí vão pegando hábito. (…). Então, isso só estimula muito a molecada a beber, fumar… e é isso. A chegada dessa lama aí tirou todo o projeto [da escola de surf e bodyboard] que a gente tinha!