Proibição da Pesca Decorrente do Crime da Samarco

Fragmento de entrevista realizada com pescador(a) artesanal em 2017

Entrevistado: (…) quando você chega em Barra do Riacho, você olha, a primeira impressão é de um distrito que se transformou em bairro industrializado, porque o que você vê aqui hoje são indústrias. Tem muitas indústrias. E isso, hoje (…) não é a mesma que tinha lá atrás, na época dos meus avós, dos meus pais, isso aqui não era assim. Isso aqui era uma comunidade, assim, bem dependente, e autossustentável, da pesca, entendeu? Porque esse rio nosso aqui, o rio Riacho – antes da construção do canal Caboclo Bernardo, [que] tem as comportas da Fibria que fecham lá em cima [impedindo o pleno escoamento da água do] rio Riacho –, ele era um rio (…) totalmente limpo. O fundo dele não era essa lama hoje que existe aí, mistura de lama com esgoto. Era aquele barro branco, era batinga. Então, tinha várias e várias espécies de peixe. Você conseguia pegar robalo, piaba, manjuba, carapé, siri… – siri tinha muito –, caranguejo… Você levantava a raiz do mangue, balançava e botava a peneira embaixo, caía camarão da água doce. Então, o pescador não precisava ir longe. Aqui na beirinha mesmo eles já pegavam o peixe deles e já voltava. Voltava rápido pra casa. 

Hoje em dia, o rio tá todo poluído; o mar, tá todo poluído (…) [em decorrência da] degradação das indústrias. E nós hoje estamos com um problema sério que foi o rompimento lá da barragem lá de Mariana, [porque] a Justiça Federal determinou que os pescadores estão proibidos de pescar. A Samarco, por si só, ela tem feito um trabalho com a empresa Renova, mas esse trabalho [de repasse de auxílio financeiro para famílias atingidas pelo rompimento da barragem] ainda não tá sendo totalmente concluído. E isso leva à percentual de pescadores aí que estão em extrema necessidade.

Os problemas sociais têm aumentado muito em decorrência disso, porque o pescador ficou ocioso. O cara é acostumado a ir todo dia pescar… Aí, de repente, ele se dá com a proibição daquilo que ele faz, [o] que ele mais gosta de fazer. E aí, ele não tem outra renda, porque tá sendo feito um recadastramento, [e] isso leva tempo. E aí tem muitos pescadores que até hoje não receberam um centavo de indenização. Isso gera uma crise financeira, uma desestabilidade mental, entendeu? Uma crise social muito grande.

Entrevistador(a): Você avalia então que esse desastre da Samarco foi um marco mesmo na transformação da cidade?

Entrevistado(a): Um marco negativo! (…) porque antes do rompimento esses pescadores estavam pescando normalmente, os barcos estavam com seus motores todos os dias funcionando, hoje, muitos barcos estão com motor com problema porque estão parados. Você sabe que motor mecânico parado muito tempo, em atmosfera marítima, a tendência dele é dar algum tipo de problema. 

(…)

Entrevisto(a): [Além disso] temos que comprar água mineral todo dia, [pois] a empresa não fornece água pra gente. Quem tem dinheiro compra, quem não tem, tá consumindo água contaminada. E aí?! E daqui há anos? Um ano, dois anos, três anos (…) o que que vai vir pra esse pessoal?! E os peixes?! (…) Quem que garante que esse peixe não tá com alto teor de (…) tudo quanto é contaminação. E o que vai ocasionar isso daqui um tempo na vida das pessoas, das crianças… Então, existe uma preocupação muito grande, entendeu? Já existe uma luz ligada na questão de saúde (…). Porque na questão ambiental o Ministério Público tá aí dando multa e mais multa na empresa. Mas e [quanto] a questão de saúde das pessoas, dos moradores? Até hoje não veio um especialista e chegou pra comunidade e falou “a água de vocês tá assim, dessa forma, com teor tal de contaminação. O peixe de vocês tá assim, dessa forma, com teor tal de contaminação.” Parece que existe uma determinação no Ministério Público [dizendo] que a Samarco tem que (…) atualizar essas informações. E, não chegam pra gente. Não chega nada. Então, a gente vive hoje um extremo…