Pesca e mudança histórico-social em Barra do Riacho

Fragmento de entrevista realizada com pescador(a) artesanal em 2017

Entrevistador(a): Conta pra gente um pouco da sua história como pescador.  Entrevistado(a): Como pescador, aqui, no tempo de meu pai, comecei a pescar com 12 anos. Aí vieram um cado, muito peixe, minha filha, era comunidade de pescador mesmo! (…) Mas era um lugar de muita fartura, não havia dinheiro, que naquele tempo não tinha dinheiro, mas tinha muita fartura de peixe, muito peixe. Meu pai criou toda nossa família e os filhos dele, pescando. (…). Era uma coisa linda essa Barra do Riacho. 

​Entrevistador(a): como era essa pesca de canoa, o senhor lembra?

Entrevistado(a): era uma canoa pequena e as canoas grandes. Meu pai tinha uma pequena. Então ele ia e eu ia pescar com ele. E trazia, muito roncador: um peixinho pequeno, nós trazíamos muito. Pescada, cação. Cação aqui não tinha preço! Salgava porque ninguém queria comprar cação. Baiacu também deu muito. Baiacu demais aí tinha. Ninguém comprava. E agora cação e baiacu é peixe nobre. Só come quem tem muito dinheiro. Agora continua a pescaria, mas, uma pescaria mais desanimada, mais fraca. Depois vem a pescaria de camarão. O primeiro barco grande de camarão aqui, quem comprou foi eu. (…). Mas, agora, a pescaria tá muito fraca, [desde que] o rio secou. Não era um rio assim, era um rio lindo que nós tínhamos aqui. No mês de abril até o mês de agosto ninguém pescava, quase, no mar. Só pescando robalo neste rio (…), mas agora não chove, o rio secou tudo. A barra [a foz – entrada e saída de barcos] só fica fechada. Ninguém pega robalo mais, difícil pegar um peixe bom. Tá, assim, pode-se dizer que tá acabando com a pescaria. 

Entrevistador(a): conta um pouquinho então a história desse rio, como é que você viu esse rio, assim, de tão bonito ficar tão destruído?

Entrevistado(a): (…) primeiro foi a Fibria. Essa Celulose Aracruz que fez a barragem ali em cima, e essa barragem puxou a… eu é que fui mostrar os rios a eles. O rio Pavô, o rio Santa Joana, o rio Gimuna [rio Gimuhuna], fui eu que mostrei. Conhecia tudo. Eu mostrava aqueles rios pra eles e eles fizeram (…) a barragem ali, no lugar, chama Gimuna, só ficou um pedacinho do rio pra nós aqui. Então ficou a água pra eles pra lá, e nós perdemos o rio Pavô, o rio Santa Joana, o rio Gimuna e o rio da Vila. Nós ficamos só com o rio do Comboio, que é um estreito, um rio ali de nada. E você veja bem, aqui, quando chovia muito, não fazia diferença, que nós tínhamos o rio, esse pedacinho tava sempre cheio, mas agora não chove mais.