Desmatamento para implantação do eucaliptal da Suzano

Fragmento de entrevista realizada com pescador(a) artesanal em 2017

Entrevistador(a): O que que mudou aqui na história de Barra do Riacho? Como foi a transformação desse lugar? Quando você era pequeno como era essa vila?

Entrevistado(a): Quando eu era pequeno essa vila aqui era tudo [casa de] palha aqui na Barra, não tinha uma casa de telha e tijolo, era tudo palha. (…) a Barra do Riacho só tinha casa na beira do rio e tinha casa assim no morro, lá na rua não tinha casa nenhuma. (…) Vivia muito do peixe. (…) Aqui era pura mata, nós morávamos aqui e era só mata, mata virgem mesmo. Daqui pra Aracruz, vila do Riacho era mata virgem mesmo.  (…) Tinha muita caça. Colo do Ouro [território de Barra do Riacho], era o lugar das caças,  [lá era] mata virgem mesmo. 

(…)

A Barra do Riacho depois foi melhorando depois que essas firmas chegaram aqui aí melhorou mais porque correu mais dinheiro (…). A gente pegava o peixe, mas não tinha pra quem vender. Não tinha dinheiro. (…) Melhorou para os trabalhadores, que apareceu dinheiro também pra nós. Porque, nós pescávamos e apareceu dinheiro pra nós vender o peixe também e aí melhorou um pouquinho. Mas, por um lado foi bom, do outro não foi.  Porque, nós fomos prejudicados também pelo nosso lugar de pesca. 

 

Entrevistado(a): Você lembra o que que aconteceu na cidade, o que a empresa Aracruz Celulose começou a fazer?

Entrevistado(a): Eu lembro quando eles começaram a acabar com a mata. Eles inventaram uma moda de arrastar corrente na mata, eles botavam um trator lá no campo de futebol e outro aqui. E eles iam arrastando aquela correntona no meio da mata e a mata ia caindo todinha, devastando a mata todinha, caia a mata e levava tudo da mata, faziam por muito tempo. Depois [que] derrubaram tudo, meteram o trator e plantaram eucalipto.

Entrevistador(a): Você nunca trabalhou pra nenhuma empresa, para a Fibria, antigamente? 

Entrevistado(a): Não, no começo da fábrica (…) comecei a trabalhar uns tempos na planagem [de terra]. Até esqueci da pesca por uns tempos e trabalhei lá, mas trabalhei pouco. 

Entrevistador(a): Com trator?

Entrevistado(a): Trabalhei braçal mesmo, ajudante de tratorista. (…) Depois eu saí pra pescar e não entrei mais pra trabalhar. Só pescaria mesmo. O salário naquele tempo era muito pouco, era muito pouco dinheiro, não dava… E aqui na Barra do Riacho é aquilo que eu estava falando, esse rio nosso era muito bom, mas foi poluído aí não tem mais rio pra nós.