Alterações no ecossistema após o crime-desastre da Samarco

Fragmento de entrevista realizada com pescador(a) artesanal em 2017

Entrevistador(a): Falando dessas alterações aqui no rio, no entorno, você identifica de forma mais visível alguma mudança na cor, no cheiro da água? Ou no pescado que pescava e não pesca mais…?

Entrevistado(a): Peixe não tem mais. Peixe quando vem é de fora daqui, porque a gente não tem mais peixe. (…) Você vai aqui e você não vê peixe. Antes você via peixe batendo aí, tainha, robalo, caçari… é o que mais tinha aqui embaixo. E agora você não acha mais nenhum… e o caçari é o peixe mais resistente que tinha aqui, entendeu? Agora você não vê mais nem o caçari aqui embaixo… O siri você via bastante, não vê mais, entendeu?… E em relação a coloração da água, é só vocês irem (…) lá nas comportas que vocês vão ver e vão se identificar a diferença. De um lado vocês vão ver uma vegetação verde e do outro lado uma vegetação seca dentro da água. Então, você já vê a diferença ali, certo?

 

E, assim, com relação às famílias de Barra do Riacho, as pessoas de Barra do Riacho e a nossa água na nossa casa tá contaminada também. O canal Caboclo Bernardo –  esse canal é do Rio Doce que traz água para a gente, essa água é toda desviada para as barragens da Fibria e da Fibria vem para o nosso tratamento de água aqui, e o nosso sistema de tratamento aqui ele não tem a tecnologia de tirar metais pesados das águas, então automaticamente ela vem para nossas casas. Então, por isso, a gente não pode estar cozinhando com essa água, não pode estar bebendo, mal lavando uma roupa, lavando um banheiro, jogando água nas plantas… Para a gente comer e beber tem que tá comprando água mineral. (…) Sem contar que se vocês pegarem essa praia aqui, até lá em cima na curva, vocês vão ver vários peixinhos mortos, vários peixes mortos. A praia tá se instaurando de lesmas que estão tomando conta da praia. Nunca aconteceu isso antes.  Então, se esses organismos tão saindo do mar, que é o habitat natural deles, então, a gente vê o caos se instalando a cada dia, a cada momento e ninguém faz nada.